quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Bicho-Papão


Começou com o meu filho de três anos gritando no seu quarto, no meio da noite. Quando eu fui ver o que tinha acontecido, ele estava histérico. Lágrimas escorriam pelas suas bochechas e ele chorava enquanto falava sobre o bicho-papão que o havia assustado. Eu o deixei dormir com a minha esposa e eu naquela noite, achando que aquilo havia sido apenas um pesadelo.

Na noite seguinte, ele nem queria dormir no seu quarto, mas eu o convenci de que o bicho-papão era só algo da imaginação dele. Fui acordado mais uma vez por seus gritos. Corri para o quarto dele e o encontrei em lágrimas novamente.

Na terceira noite eu instalei uma câmera no quarto, para mostrar para ele que não havia nenhum monstro ali. Naquela noite não houve gritos nem choro. Fiquei aliviado quando acordei de manhã, depois da primeira noite bem dormida em três dias. Entretanto, meu filho parecia exausto. Ele nem chegou a fazer sua bagunça rotineira enquanto o arrumávamos para a escola de manhã. Quando minha esposa o levou para a creche, eu decidi assistir à gravação, para ver como ele tinha dormido. Eu nunca vou esquecer o que eu vi.

Por volta das duas da manhã, enquanto meu filho dormia, a porta do seu armário se abriu lentamente, com um rangido. Rastejando das sombras, surgiu uma mulher magra, pálida, com veias saltadas, cabelos brancos e olhos de um preto profundo. Seu corpo era ossudo e frágil, como o de um prisioneiro em um campo de concentração. Quando ela virou para o lado pude ver sua coluna saliente, se projetando das costas arqueadas, como a de um dinossauro. Ela foi até o berço do meu filho e, com suas mão desproporcionalmente grandes, tapou a boca dele. Ele tentava gritar, mas não conseguia. A palma de uma das mãos dela envolveu a cabeça dele facilmente, abafando seu choro. Ela o ergueu com uma facilidade que alguém com o porte dela não teria, então caminhou de volta para o armário com ele nos braços. Uma hora depois, ela retornou com algo que parecia ser um verme se contorcendo, do tamanho de um saco de estopa, e o colocou na cama do meu filho antes de se retirar novamente para dentro do armário.

Durante as duas horas seguintes eu o assisti se enrolar e se contorcer, enquanto crescia e sofria mutações, até ficar igual ao meu garoto. Assim que a transformação estava completa, ele saiu do berço e colocou um pijama, então voltou para debaixo das cobertas e esperou que nós entrássemos no quarto. Eu não sei o que é aquela coisa que eu deixei sozinha com a minha esposa nessa manhã, mas eu sei que aquilo não é o meu filho.




quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Escuridão


Tudo isso começou quando me mudei para a minha casa nova. Sim, é bem clichê. Acredite, eu sei, mas foi o que aconteceu. Eu nunca tive nenhuma experiência sobrenatural antes e, apesar de ter certo interesse pelo assunto, nunca esperei que algo acontecesse comigo. Eu consegui alugar a casa por um preço bem pequeno. Não pensei muito nisso porque era um lugar velho e não ficava em um dos melhores bairros, então achei que era um bom negócio. Depois que me mudei, as coisas até correram bem por um tempo.

Eu não me lembro exatamente quando começou, porque parecia não ser nada de mais naquela época. Eu deixava uma luz acesa na cozinha ou no banheiro e voltava para encontra-las apagadas. Honestamente, eu pensei que estava simplesmente esquecendo que as tinha apagado antes de voltar. Depois de um tempo, eu comecei a refletir e passei a deixar algumas luzes acesas de propósito. Às vezes, nada acontecia. Às vezes, eu voltava e encontrava as luzes apagadas.

Nesse ponto eu percebi que havia algo errado. Não estava realmente assustado, mas confuso. Pensei que pudesse haver algo errado com a parte elétrica. Comecei a deixar luzes acesas com mais frequência (ferrou com a minha conta de energia elétrica), pois pensei que poderia ter alguma pista do porque as luzes se apagarem sozinhas aleatoriamente. Foi aí que as coisas tomaram outro rumo.

A primeira vez que me lembro de algo realmente doido ter acontecido foi quando deixei as luzes da cozinha e da sala de estar acesas enquanto dormia. Eu acordei com um rosnado gutural ecoando na cozinha. Do quarto dá pra ver o corredor que leva à sala de estar, que está conectada com a cozinha. Eu me lembro de acordar e pensar que havia um animal ou algo assim na minha casa. Eu olhei pelo corredor, na direção da sala de estar, e vi a luz apagada. Alguém havia desligado o interruptor da cozinha. Ouvi outro rosnado baixo, dessa vez da sala de estar, e eu quase gritei quando vi uma forma escura cruzando a entrada da do corredor, para em seguida a luz da sala de estar também se apagar. Mas eu não pude ver exatamente o que era. Parecia uma sombra ou algo parecido. Não que isso importasse. Eu estava apavorado. Eu saltei da cama e acendi a luz, esperando que houvesse algo no quarto, pronto pra me pegar.

Nada. Não havia nada no quarto. Eu soltei um suspiro e então atravessei lentamente o corredor até a sala de estar. Assim que cheguei ali, praticamente voei para acender o interruptor novamente. Mais uma vez, nada. Depois foi a cozinha e, novamente, nada.

Eu estava começando a achar que havia sonhado tudo aquilo, mas quando fui apagar a luz da cozinha, eu parei. Veja bem, eu era um homem adulto, mas lá estava eu, apavorado para apertar o interruptor. E vou admitir, dormi com todas as luzes acesas naquela noite.

Aquilo foi um erro.

Quando acordei na manhã seguinte, todas as luzes estavam apagadas novamente. Eu me forcei pra fora da cama e estremeci, sentindo o corpo dolorido. Eu afastei os lençóis e vi grandes marcas vermelhas ao redor dos meus braços e pernas. Parecia que algo tinha me arranhado durante a noite. Isso me deixou aterrorizado, mas foi bem pior quando eu vi o que tinha acontecido.

Cada fonte de luz que eu havia deixado ligada estava quebrada.

Cada lâmpada que estava acesa na noite anterior estava quebrada, retirada do soquete e esmagada. O ar congelou na minha garganta conforme eu olhei ao redor. Havia alguma coisa totalmente fudida aqui. E algo tentou… bem, fazer alguma coisa comigo. Eu liguei pro trabalho e disse que iria faltar, e fui imediatamente substituir as lâmpadas.

Eu não sabia o que fazer. Eu pensei em ir embora mas - e eu sei que isso provavelmente vai soar estúpido – essa era a minha casa. Era minha primeira vez morando longe da minha família e essa era a MINHA casa. Eu não podia desistir. Então... eu fiquei.

Mesmo quando tudo piorou.

Apesar de eu começar a ficar apavorado com a escuridão, eu realmente não conseguia dormir com a luz acesa no quarto à noite. Mas eu deixava outras luzes acesas, como a do corredor ou da sala de estar, que me permitiam enxergar muito bem no meu quarto escuro. E quase toda noite eu acordava no meio da madrugada, ouvindo algo rosnar e perambular pela sala de estar, para em seguida as luzes se apagarem. Eu não queria ir lá olhar. Eu estava apavorado com o pensamento de estar na mesma sala que o que quer que fosse aquilo. Então eu me encolhia na cama e rezava para ele nunca entrar no quarto.

Certa noite, quando isso já vinha acontecendo há algum tempo, eu fiquei de saco cheio. Comprei uma arma e liguei cada luz da casa. Então sentei no meio da sala de estar com a arma no colo e com um taco de baseball do meu lado. E esperei. A princípio, nada aconteceu por um bom tempo. Cerca de duas da madrugada, eu comecei a ouvir. Curiosamente, estava atrás de mim. Eu me virei e espiei o corredor para o meu quarto, e pude ouvir aquele grunhido familiar. Eu engoli em seco, segurei a arma em uma mão e o taco na outra, e lentamente dei alguns passos para o lado, para ter uma visão melhor do quarto. Assim que comecei a enxergar minha cama, ouvi uma batida alta, seguida de um rosnado inumano. Eu, sendo o homem corajoso que sou, dei um pulo pra trás, me afastando do corredor. Eu queria acabar com tudo isso, santo deus, mas eu não queria lidar com aquela coisa! Eu podia ouvi-la quebrando e esmagando mas, não sei como, consegui ouvir um “click”. E então, nada. Lentamente, eu voltei a espiar o corredor e a luz estava apagada de novo. Respirei fundo e segui em frente, com as armas prontas.

Quando cheguei ao meu quarto e liguei a luz, eu engasguei. Minha cama estava destruída, totalmente despedaçada. Era como se algum animal tivesse avançado nela e a destroçado completamente. Eu dei um passo à frente para ver o que tinha sobrado da cama e fiquei ali parado por sabe deus quanto tempo. Só me virei quando ouvi o som familiar de um grunhido. Parado perto da minha porta, bem ao lado do interruptor, foi quando eu o finalmente o vi.

Era um homem, alto e apodrecido, com um corpo deformado que parecia ter sido usado como brinquedo de cachorro, e estava ali, olhando pra mim. Eu fiquei tão chocado que nem ergui minhas armas. Ele me encarou apenas por um momento e então... desligou a luz. Eu gritei. Nem tenho vergonha de admitir. Gritei e saí correndo. Nem liguei que ali era onde aquele… homem… estava. Eu corri direto por onde eu havia o visto, sacudindo o bastão que nem louco. Eu quase fiz um buraco na parede quando corri para a segurança iluminada do corredor. Eu me virei para olhar, bem a tempo de vê-lo novamente, perto do interruptor do corredor. Ele desligou aquele também. Naquele ponto, eu não queria lutar. Eu queria estar em segurança. Eu corri e atravessei a sala de estar, e fui direto pra luminosidade da cozinha.

Eu ouvi o som do rosnar e arranhar ao meu redor, e sabia que ele estava voltando. Olhei pra trás para ver, mais uma vez, o corpo deformado e apodrecido de um homem apagar outra lâmpada com o dedo quebrado, me fazendo mergulhar em trevas aterrorizantes. Eu disparei na direção da sala de estar.

Essa seria minha última tentativa. Eu teria que lutar aqui. Fiquei bem próximo de um abajur, que era minha última linha de defesa. Ele adorava a escuridão, então eu iria ficar bem aqui. Perto dessa lâmpada reconfortante. Eu esperei que ela se apagasse... mas não o fez. Olhei ao redor e... silêncio. Nada além de silêncio. Então eu me virei para olhar para aquela benção de lâmpada que se recusava a se render. Eu percebi que estava rindo, uma risada insana, mas VIVA, e pensei que tudo finalmente ficaria bem. Eu me aproximei e juro que quase abracei aquele abajur.

Até que eu ouvi.

Ouvi o rosnado vindo não das minhas costas, mas da minha frente! Daquela lâmpada. Meus olhos se arregalaram e eu olhei enquanto a luz se intensificava. Eu tropecei para trás e não sei o que aconteceu, acho que esbarrei em alguma coisa. Só sei que eu estava deitado de costas olhando para aquela luz brilhante e intensa. Não era mais reconfortante. Só quente, intensa e brilhante... achei que ela ia me queimar totalmente. E então a coisa veio.

Eu não tenho palavras para descrever o que jorrou da luz daquela lâmpada. Era horrendo, distorcido e cheio de ódio. Mas eu sei que nunca esquecerei aqueles olhos. Brilhantes, incandescentes e brancos... dois círculos brilhantes de pura maldade. Ele me odiava. Odiava tudo a meu respeito. E não só eu. Odiava a todos nós. Cada ser humano. Mas estava preso aqui. E iria descontar em quem pudesse. Eu. Não sei como eu sabia disso mas… eu simplesmente sabia. Ele se arremessou na minha direção e eu me preparei para uma morte dolorosa.

“CLICK!”

A luz apagou. Mais uma vez escuridão. Doce, silenciosa e relaxante escuridão. Eu fiquei no chão por um longo momento, deixando meus olhos se ajustarem, enquanto mantive o olhar fixado no lugar onde a lâmpada estava. Conforme os segundos passavam, comecei a distinguir sua forma. Aquele homem deformado estava ao lado do abajur, com uma mão mutilada no interruptor, enquanto olhava pra mim.

Então eu compreendi. Entendi o que tudo aquilo significava. Tudo que aconteceu. O homem afastou sua mão do interruptor e apontou um dedo mutilado para ele, claramente sacudindo a cabeça de um lado para o outro. Tudo que consegui fazer foi acenar a cabeça, concordando.

Não era ele quem queria me fazer mal. Todo esse tempo, em todas as ocasiões, ele estava tentando me proteger. Aquela criatura só conseguia aparecer na luz. E esse homem mutilado estava tentando me manter seguro. Ele não queria que alguém repetisse seus erros.

Eu me mudei no dia seguinte e nunca olhei pra trás. O que quer que aquilo fosse, estava confinado naquela casa e, até agora, nada saiu de outra fonte de luz pra me pegar. Mesmo assim, aquilo vai ficar na minha mente pra sempre. Toda noite, no meu novo apartamento, tenho o hábito de vagar pela casa, me certificando de que cada lâmpada esteja apagada, cada cortina esteja fechada, e garantir que eu mergulhe em uma escuridão silenciosa, confortável e totalmente segura.




segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Testes

Olá gente. Só pra avisar, estou fazendo uns testes com o logo do site, então não se assustem se virem algumas coisas estranhas no blog entre hoje e amanhã. 

O Portador da Rejeição


Em qualquer cidade, em qualquer país, vá a qualquer instituição mental ou casa de recuperação em que você puder entrar. Quando chegar à recepção, peça para visitar alguém que se auto intitula “O Portador da Rejeição”. A atendente irá olhar para o lado, em uma clara tentativa de te ignorar. Peça novamente, e de novo e de novo, até que ela finalmente te olhe nos olhos. Quando isso ocorrer, tome a iniciativa e segure sua mão. Com lágrimas nos olhos, ela irá então te levar a uma porta aparentemente comum, à direita do balcão da recepção.

De frente com a porta, a atendente te entregará uma chave enferrujada, e logo em seguida voltará para o balcão. Use a chave para destrancar a porta, e mantenha os olhos bem abertos. À sua frente haverá um corredor escuro, mas isso mudará assim que você fechar a porta atrás de si. No momento em que a porta bater às suas costas, o lugar ficará completamente iluminado. Trata-se de um corredor não muito longo, com paredes totalmente brancas, repletas de espelhos de ambos os lados. Conforme caminha, você perceberá que nenhum desses espelhos refletirá sua imagem. Como se você não existisse. Siga em frente pelo tempo que for necessário, até chegar a uma porta de metal enferrujado. Para destrancá-la, use a mesma chave que você usou na primeira porta, mas tenha uma coisa em mente: a partir do momento em que essa porta for destrancada, não haverá mais volta. Suas únicas opções serão completar a busca por esse Objeto ou vagar à margem do esquecimento para sempre. Se quiser um tempo para repensar seu rumo, volte por onde veio e entregue a chave à recepcionista, sem olhá-la nos olhos. Se decidir prosseguir, coloque a chave na fechadura e gire-a três vezes. Espere um ano e um dia antes de tentar obter esse Objeto novamente.

Assim que você entrar, a porta se fechará sozinha, de forma lenta e suave. Ao cruzar o batente, você se verá em uma sala circular, com um grande espelho no teto. Não haverá ninguém ali, nem móveis ou quaisquer outros objetos. Apenas você e as paredes circulares de pedra, iluminados por uma tênue luz avermelhada, emanando das próprias paredes. Feche os olhos e, com uma voz alta e clara, faça a pergunta: “Por que eles foram ignorados?”. Em seguida, abra os olhos e olhe para cima. O reflexo do espelho mostrará que você não está mais sozinho, apesar de não haver ninguém na sala com você. Pelo reflexo, haverá uma cópia exata de você a cinco passos de distância, olhando para cima, da mesma forma que você estará fazendo. Neste momento, sente-se, feche os olhos e relaxe da melhor forma que puder, pois o teste irá começar. Não grite, não chore, não pense em nada. Tente apenas relaxar o máximo que conseguir. Você vai precisar de toda a tranquilidade que puder encontrar.

Alguns segundos após fechar os olhos, você ouvirá uma voz. Será a voz da pessoa que você mais amou em toda a sua vida. Ela te dirá que está tudo bem, que sua dolorosa jornada terminou e que vocês podem ir para casa juntos. NÃO abra os olhos. O mero vislumbre da criatura faria você perder totalmente o controle. E sabemos que não é isso que você quer. Continue de olhos fechados e ignore tudo o que for dito a você. Ignore as palavras doces. Ignore o toque gentil e amável. Ignore as promessas de felicidade, e tudo mais que puder vir dessa fonte blasfema de corrupção. Ela irá narrar uma eternidade de alegria e uma vida tão próspera quanto aquela do mais feliz dos reis. Após alguns minutos ou talvez algumas horas, a voz irá cessar. E nesse momento você irá sentir um vazio tão amargo no peito, que perceberá que nunca mais sentirá amor por nada no mundo. Sua felicidade morrerá junto com a cálida voz que te abandona naquela sala fria e mal-iluminada.

Em seguida, você ouvirá algo que te fará tremer até os ossos. Tudo que você mais teme se manifestará na forma de vozes, cheiros e sensações de puro terror e ódio, arremessados contra você com a força de um maremoto. Ofensas, ameaças, castigos serão narrados de forma tão grotescamente detalhada, que você irá repensar seriamente seus conceitos sobre dor e morte. Mas mesmo com todo esse turbilhão de caos ao seu redor, mantenha-se firme. Se ceder às ameaças ou demonstrar qualquer sombra de medo, todo esse castigo se tornará realidade, e sua alma será despedaçada por tudo aquilo que estava preso em seu subconsciente, esperando para se alimentar. Passados minutos, horas ou talvez dias, as vozes cessarão, junto com quaisquer outros estímulos ou sensações. E nesse momento você perceberá que jamais irá sentir medo novamente. Seus temores serão arrancados de você no momento em que a última maldição for proferida pelas vozes ásperas que ecoam no abismo de sua mente.

Se você se manteve férreo até agora, se não vacilou em nenhum momento, poderá abrir os olhos, e verá que não está mais sozinho na sala. A cópia que você havia visto no espelho estará à sua frente, sentado igual a você. Ele irá se levantar e te entregará uma moeda de prata enferrujada. Então ele se aproximará de você e sussurrará em seu ouvido, te contando sobre a origem deste Objeto e qual será sua importância nos eventos que virão. Ele te dirá o quanto este Objeto em particular é odiado pelos outros Portadores, e listará todas as razões que te levariam a recusar a posse dele. Ele também te dirá que, lançando essa moeda em momentos de dúvida, você será capaz de estar um passo à frente de tudo, não importa o que aconteça.

A moeda é o 48º Objeto dos 538. Você rejeitou o Bem e o Mal. Mas será capaz de rejeitar o Poder?




Autor: Jimmy Hazard

domingo, 27 de outubro de 2013

Carta Para Casa


Durante a guerra, um soldado escrevia fielmente para sua mãe, toda semana, para que ela soubesse que ele estava bem. Mas houve uma semana em que ela não recebeu nenhuma carta, e imediatamente ficou preocupada. Passadas algumas semanas, ela recebeu uma carta do exército, dizendo que seu filho estava sendo mantido em um campo de prisioneiros de guerra, mas garantiram que não havia motivos para acreditar que os prisioneiros estavam sendo maltratados de forma alguma. Algumas semanas depois, a mulher finalmente recebeu outra carta de seu filho, que dizia:

“Querida mãe,

Tente não se preocupar comigo, estão nos tratando muito bem e eu serei liberado assim que a guerra acabar. Se certifique de que o pequeno Teddy fique com o selo para a sua coleção.

Te amo, Joe.”

A mulher ficou emocionada por ler as notícias, mas também estava confusa, pois não fazia idéia de quem era esse “pequeno Teddy”. Ela decidiu usar vapor pra descolar o selo do envelope e dar uma olhada nele. Depois de descolar o selo, viu que havia palavras escritas na parte de trás:

“Eles cortaram as minhas pernas.”




sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A Verdade Sobre Pac-Man


Em 1976, o cosmonauta Nikolai Peckmann foi mandado em uma missão solo para uma estação espacial em órbita - que seria chamada de Missão 6 – para estudar os níveis de radiação e as estranhas circunstâncias que haviam matado todos os quatro membros da tripulação da última missão de pesquisa.

No terceiro dia, as transmissões entrecortadas de Peckmann chegavam à central de controle na Terra cheias de uma paranoia crescente, com muitas alucinações. Ele afirmava que os espíritos dos cosmonautas mortos estavam vindo para leva-lo embora, e que ele tinha que se manter em movimento para fugir deles. Ele esbravejava que, se ele próprio pudesse capturar e consumir esses espíritos enquanto ainda tinha forças, poderia alcançar o próximo nível de consciência... claramente rompantes de um homem insano.

De fato, um vídeo recuperado mais tarde teria mostrado Peckmann correndo pela pequena e labiríntica estação, engolindo sedativos como um louco... parando momentaneamente em um canto, somente para vomitar as pílulas de vitaminas e perseguir seus demônios invisíveis.

Ele exauriu o estoque inteiro de vitaminas, pílulas e frutas frescas muito antes do planejado. Não havia maneira de reunir outra equipe para resgatá-lo antes que ele morresse de fome. Após uma transmissão violenta e particularmente ininteligível, a estática sumiu e a última imagem ao vivo que foi registrada é a do traje espacial de Peckmann, vazio e mucho, largado no chão da cabine.

Ficou determinado que outra missão para recuperar restos mortais ou reunir mais dados seria um desperdício de dinheiro. Então a estação foi abandonada para vagar pra fora da órbita, rumo ao espaço – um fracasso que nunca mais deveria ser mencionado. Foi ordenado que todas as evidências de vídeo e documentos fossem destruídas. Assumiu-se que isso havia sido feito...


... mas, no começo da década de 80, uma empresa de jogos novata, chamada NAMCO, tropeçou em algumas transcrições desses eventos. E o resto – como dizem – é história.






quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A Portadora da Florescência


Em qualquer cidade, em qualquer país, vá a qualquer pousada, hotel ou outro lugar onde você possa descansar. Simplesmente encontre uma cama confortável o suficiente pra você. Então durma, depois durma um pouco mais. Se você sonhar, então estará destinado a essa tarefa. Se não, seus sucessos até agora não passaram de pura sorte. E reze para que você nunca acorde, pois os Objetos que você possui não são mais seus e os Portadores irão querê-los de volta.

Em seu sonho você verá um jardim lindamente construído, fontes de água fresca e flores raras cintilando em meio à bruma. Aqui você poderá descansar e se preparar, terá eras inteiras para fazer isso com sombra e água fresca. Quando estiver pronto, vasculhe o jardim até encontrar uma mesa onde uma linda mulher está sentada, esperando por você. Ela irá gesticular para que você sente à esquerda dela. Ela gosta de você e te dará uma tarefa a ser cumprida por ela. Sem palavras ou gestos, ela te pedirá para encontrar uma flor no jardim. Você está no reino dela. É melhor obedecer.

Ela manterá a descrição da flor em segredo. Ela estará te testando, no final das contas. Se você estiver destinado a cumprir seu papel, ou se sua sorte continuar, você irá de encontro a duas árvores entrelaçadas, cada uma produzindo uma flor diferente. Escolha sabiamente pois, se você desagradar sua anfitriã, seria melhor esmagar seu próprio crânio contra as rochas do que enfrentar seu descontentamento. Se você escolher a flor correta, simplesmente volte para a mesa e lhe entregue essa flor. Ela irá sorrir, beijará seu rosto e dirá “eu também já fui uma Buscadora, tenha cuidado com seu destino”. Conforme ela se vira, você verá que suas costas foram maltratadas e mutiladas por fogo, dentes e outras coisas que sua mente nem sonha em compreender. Siga-a até sua casa e não tenha medo. Ela não te deseja mal algum. Ela compreende sua jornada. Você vai parar à entrada da casa e ela irá abrir a porta para você com essas palavras finais: “Eu te deixarei livre para ir embora se você me prometer uma coisa: se algum dia sua jornada te trouxer de volta para esse lugar, você irá me destruir. Se quebrar sua promessa, seu sono nunca mais será seguro.” Com isso, ela irá gentilmente te levará para fora de sua casa e de volta para o reino dos despertos.

Você se verá no seu quarto, e pelo canto do olho irá enxergar algo deslizando por baixo da sua porta. É um envelope, contendo uma pétala de flor.

A pétala é o 47º Objeto dos 538. Ela é sua aliada, mas você manterá sua promessa?




quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Túneis


Antes de começar, há duas informações que você deve considerar.

Primeiro, você já notou que, sempre que um espelho é refletido em outro, depois de múltiplos reflexos ele começa a sumir em uma infinidade cada vez mais escura? O espelho pode estar quebrado ou totalmente impecável, não importa. A luz sempre irá desaparecer e ficar esverdeada quanto mais o reflexo do túnel se aprofunda. Não é sábio para alguém tentar criar esses túneis de propósito, mas para os curiosos, e eu assumo que você seja um, eles são, no mínimo, bastante interessantes.

Segundo, sim, sua cópia realmente vive como seu reflexo imediato na superfície do espelho. A boa notícia é que ele é inofensivo. Ele vive como você, tão inocente quanto, quando te vê no reflexo dele. Por que ele deveria questionar suas intenções quando ele próprio não tem nenhuma? Ele vive com tanta tranquilidade, ou falta dela, quanto você.

Não importa o dia, lugar ou posição da lua para isso ocorrer. Apesar que, quanto mais escuro, mais fácil será para que eles apareçam. Também seria uma boa ideia anotar a hora exata em que você começar, por razões que ficarão claras mais adiante. Você precisa de dois espelhos grandes, um de frente com o outro, com cerca de um metro de distância entre eles. Fique parado entre eles e não faça nenhum ruído. Na verdade, o local que você escolher deve estar livre de quaisquer ruídos externos. E isso é o mais importante. Eles se assustam facilmente, principalmente no começo. Você deve ser capaz de ver seu reflexo inteiro no espelho que estiver encarando.

Conte quantos espelhos você conseguir enxergar através dos reflexos sobre o seu ombro, até que a escuridão engula seus últimos vestígios. Dependendo da quantidade de luz do local, isso deve levar de dez a vinte minutos. Sinta-se à vontade para demorar o tempo que precisar. Conforme seus olhos se aguçam para contar os últimos quadros visíveis, você notará formas pálidas emergindo da escuridão longínqua do túnel de espelhos, antes de voltarem para as trevas infinitas novamente. Isso pode ser apenas um truque da mente a princípio, mas gradativamente você começará a vê-los com mais frequência. Assim que eles começarem a aparecer em intervalos mais regulares, você poderá notar que uma expressão de desconforto surge no rosto do seu reflexo, apesar de você sentir seu próprio rosto relaxado. Nesse ponto, saia imediatamente do meio dos espelhos, saia da sala onde eles estão e tranque a porta atrás de si. Eles despertaram.

Se no segundo dia você se sentir tão curioso quanto no primeiro, poderá repetir o mesmo processo descrito acima. Ele deve ter início exatamente no mesmo horário em que começou no dia anterior, daí a necessidade de anotá-lo. Aquelas coisas que você deve ter visto apenas por alguns segundos podem reaparecer mais rapidamente, se você tiver conquistado sua simpatia. Seu reflexo pode parecer um tanto nervoso, mas é só um truque da mente, nada com que você deve se preocupar. Assim que você tiver terminado de contar quantos quadros conseguir, pisque uma vez para recuperar o foco. Você não deverá fechar os olhos novamente. Na verdade você não conseguiria se quisesse. Você pode notar que agora eles não aparecem apenas nos quadros mais escuros, mas em reflexos mais próximos também. Você não conseguirá distinguir nada que poderia ser considerado um rosto, exceto alguns borrões que lembram dentes.

Não deixe sua curiosidade te cegar. Procurar por similaridades humanas neles seria inútil, mas mesmo assim você vai continuar a tentar entende-los. Se alguma vez eles aparecerem em quadros a menos de seis reflexos de distância do seu próprio reflexo, eles já ficaram confortáveis demais com você e você com eles. Eles se tornaram bonitos demais para serem ignorados. Você ficou focado demais neles, focado demais para perceber seu próprio reflexo apontando, te avisando sobre a coisa saindo pelo espelho atrás de você.




terça-feira, 22 de outubro de 2013

Pequenos Contos - Parte 1


Indo Além

Biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiip.......bip........bip.......bip........bip......bip......bip

Eu senti as lágrimas escorrerem dos meus olhos conforme o monitor registrava as batidas do coração. Ela se virou na cama quando os médicos entraram correndo, e tossia tanto quanto seus pequenos pulmões permitiam. "P-Papai", ela choramingou, "P-Papai?". Eu segurei sua mão com força e seus pequenos olhos azuis me encontraram. "Estou aqui docinho, papai está aqui, você está bem? Oh, Deus, eu achei que havia perdido você!" Ela sorriu pra mim, "Deus papai! Eu encontrei Deus!" Lágrimas escorreram pelo meu queixo, "Oh, querida, isso é excelente, o que Ele disse?" Suas pequenas sobrancelhas se curvaram, "Oh papai, eu não sei, estava tudo embaçado e tão barulhento e – "

Eu dei um passo pra trás. A equipe médica ficou parada. Ela imediatamente começou a choramingar, "Não papai, eu tentei, papai, não!"

"Ela não fez contato", eu me virei para os médicos, "mandem-na de volta".





Na Cozinha

Uma garotinha está brincando no quarto, e então escuta sua mãe a chamando da cozinha. Então ela desce correndo as escadas para encontrar sua mãe. Conforme ela passa pelo corredor, a porta do armário sob a escada se abre e uma mão a puxa para dentro. É sua mãe, que sussurra para a garota: "Não vá pra cozinha. Eu ouvi também."





O Espelho

Na próxima vez em que você estiver sozinho em seu quarto, desligue as luzes. Pense em algo no seu corpo que varie em comprimento, como cabelo. Ele deve ser totalmente visível de onde você está. Pegue uma régua e, olhando para o espelho, rapidamente segure um fio aleatoriamente. Você tem que confundi-lo. Segure a posição da melhor forma que conseguir e preste atenção no comprimento mostrado na régua do espelho. Agora olhe para baixo. O seu será diferente.

Não olhe de volta pra cima.

Nunca mais dê as costas para esse espelho.



segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Esconde-Esconde Sozinho


Introdução:

“Esconde-esconde sozinho”, também conhecido como “pega-pega” sozinho, é um ritual para contatar os mortos.
Os espíritos que vagam sem descanso pela Terra estão sempre à procura de corpos para possuir. Nesse ritual você invocará um desses espíritos, através da oferta de uma boneca ao invés de um corpo humano.

Aviso: se você possui habilidades psíquicas, poderá se sentir desconfortável ou ter tendência a sofrer acidentes durante o ritual.

Material necessário:
Uma boneca com enchimento. Precisa ter membros.
Arroz suficiente para encher a boneca.
Uma agulha e uma linha de cor rubra.
Um cortador de unhas.
Uma ferramenta afiada, como uma faca, caco de vidro ou tesoura.
Um copo de água salgada. Sal natural seria o melhor.
Um banheiro, com uma banheira e um balcão ou pia.
Um esconderijo, de preferência uma sala purificada com incenso e ofuda (uma espécie de medalhão). Precisa ter uma TV ali.

Preparação:
Tire todo o enchimento da boneca. Assim que tiver retirado tudo, preencha-a com arroz. *1
Corte alguns pedaços da sua unha e coloque-os dentro da boneca. Costure a abertura com a linha rubra. Quando terminar de costurar, amarre a boneca com o resto da linha. *2
Vá para o banheiro e encha a banheira com água.
Volte para o seu esconderijo e coloque o copo com água salgada no chão.

Como fazer:
Dê um nome à sua boneca. O nome pode ser qualquer um, exceto o seu.
Quando for exatamente 3 da manhã, diga “(seu nome) é o primeiro” para a boneca três vezes.
Vá ao banheiro e coloque a boneca dentro da banheira cheia.
Desligue todas as luzes da sua casa, volte para o esconderijo e ligue a TV.
Depois de contar até dez com os olhos fechados, volte para o banheiro com o objeto afiado em mãos.
Vá até a banheira e diga para a boneca “eu te encontrei, (nome da boneca)”.
Finque o objeto afiado na boneca. *3
Diga “está com você, (nome da boneca)”, enquanto tira a boneca da banheira e a coloca em cima da pia.
Assim que você tiver colocado a boneca ali, corra de volta para o esconderijo e se esconda.

Como encerrar:
Coloque metade da água salgada do copo na boca. Não beba, só mantenha a água na boca.  *4
Saia do seu esconderijo e comece a procurar pela boneca. Ela não estará necessariamente no banheiro. O que quer que aconteça, não cuspa a água salgada. Quando você encontrar a boneca, derrame o resto da água do copo sobre ela. Então derrame a água da sua boca sobre ela também.
Diga “Eu venci” três vezes.
Isso teoricamente encerra o ritual.
Depois disso, certifique-se de secar a boneca, queimá-la e livrar-se dela.

MAIS IMPORTANTE:
Por favor não interrompa esse ritual na metade. Você deve executá-lo até o final. Esse é um ritual perigoso e eu não me responsabilizo pelo que acontecer com você se tentar.

Outras coisas para manter em mente:
Não saia da casa até ter terminado o ritual.
Você deve desligar cada uma das luzes da casa quando o ritual mandar.
Você deve se manter em silêncio enquanto estiver escondido.
Não é necessário colocar a água salgada na boca desde o início. Só é preciso fazer isso na hora de encerrar o ritual.
Lembre-se, se você mora com alguém, pode colocá-lo em risco também.
Não prossiga com esse ritual por mais de uma ou duas horas.
Por razões de segurança, seria melhor manter todas as portas da casa destrancadas, incluindo a porta da frente. Além disso, tenha amigos por perto, que poderão entrar na casa e te ajudar rapidamente, se necessário. Manter um celular por perto também seria uma boa ideia.

Notas:
1 - O arroz representa vísceras e também tem o papel de atrair os espíritos.
2 - A linha rubra representa um vaso sanguíneo. Ele sela o(s) espírito(s) dentro da boneca.
3 - Ao cortar a linha, você quebra o selo e liberta o(s) espírito(s) que aprisionou.
4 - Se você sair do esconderijo sem a água salgada, pode encontrar algo “vagando” pela casa, algo que poderá te machucar de alguma forma. O meio para detectar a presença de algo vagando por aí é prestar atenção ao que acontece com a imagem da TV.



sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O Portador do Espelho


Em qualquer cidade, em qualquer país do mundo, vá a qualquer instituição mental ou casa de repouso, e pergunte ao atendente a respeito do “Portador do Espelho”. O funcionário irá te olhar de forma estranha, como se você tivesse falado em alguma língua estrangeira. Pergunte de novo, até que ele finalmente entenda, e então ele te levará até as profundezas da instituição, sem dizer uma palavra.

Você será guiado até uma porta lisa de ferro, então o funcionário a destrancará e fará um gesto para que você entre na escuridão do corredor adiante. Ele ficará para trás, sem nunca pronunciar uma palavra que seja, e sem fazer contato visual. Assim que a porta se fechar atrás de você, o corredor será preenchido por uma luz etérea, revelando as paredes feitas de espelhos. Os reflexos se estendem até a eternidade em ambos os lados, mas nenhum deles mostrará a sua imagem. Eles mostram o reflexo daqueles que vieram antes de você. Cada projeção mostra outra pessoa que buscou o Portador, e mostram como eles morreram. Tente não olhar para seus rostos enquanto as bestas os devoram. Tente não olhar para nada, só ande em linha reta. Se você olhar, se você assistir, as feras nos reflexos irão te ver também, e virão atrás de você.

Se por acaso as luzes começarem a diminuir, se você começar a perder o caminho em meio às trevas, feche bem os olhos e diga com firmeza, sem medo: “Aqueles que vocês procuram já se foram”. Se as luzes retornarem, você teve sorte, e as criaturas que te perseguiam te deixaram em paz. Se escurecer, não corra. Não há razão em fugir, nem em rezar por uma morte rápida. Eles irão te pegar, e sua morte se estenderá por toda a eternidade.

No fim do corredor absurdamente longo, você encontrará outra porta, com uma luz branca e morna emanando de suas frestas. Bata na porta, e sua entrada será permitida. Parada no centro da sala octagonal haverá uma figura, uma mera silhueta sob a meia-luz da câmara.

Ele não lhe dará atenção, até que você faça a pergunta: “O que eles refletem?” Se fizer qualquer outra pergunta, ele irá preencher todos os seus poros com milhares de agulhas, esfolando sua pele e deixando-a à mercê de ventos salgados. Isso enquanto ele tortura sua mente rumo à insanidade, garantindo que você viva eternamente com ele na câmara, como uma mera sombra do que você foi um dia, com cada momento de existência transformado em uma insana agonia.

Entretanto, se você fizer a pergunta correta, ele te responderá, em detalhes que te arrepiarão até os ossos e transformarão seu coração em pedra. Ele te dirá o que os Portadores significam, por que eles existem, e o que está por vir.

Depois de te contar tudo isso, ele dará um passo rumo à luz, revelando quem ele é. Você verá a si mesmo, exceto que nos lugar dos olhos sua cópia terá espelhos prateados nas órbitas. Enquanto você observa, incapaz de se mover pelo terror, sua cópia removerá um dos espelhos, fazendo seu sangue espesso
Jorrar bem rápido.

Você entregará a si mesmo o caco ensanguentado, e então se verá de volta, do lado de fora da instituição.

O espelho sangrento é o 46º Objeto dos 538. Ele refletirá o que já foi e o que há de vir.




quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O Portador da Paz


Em qualquer cidade, em qualquer país, vá a qualquer instituição mental ou casa de recuperação em que você puder entrar. Corra para a recepção com um olhar de ódio no rosto e exija uma visita imediata à pessoa que se autodenomina "O Portador da Paz". O atendente irá recuar e te pedir para falar com calma. Não atenda ao seu pedido – nem preste atenção a ele. Fale ainda mais alto, pois o ódio em sua voz é a única coisa que mantém as correntes da porta atrás do balcão trancadas.
Mantenha a raiva em sua voz. O atendente irá se encolher embaixo da mesa e apontará, com um dedo trêmulo, para um corredor à direita, que não estava ali antes. Vire-se imediatamente e saia batendo os pés na direção do corredor. Não olhe sobre os ombros, pois o atendente irá te capturar – não duvide – e calmamente irá se inclinar para trás e destrancar a porta atrás de si.

Ande até encontrar uma porta muito bonita, desenhada em madre-pérola. Abra-a com rispidez, mas remova o ódio de sua face imediatamente – aqueles lá dentro não apreciam tanta raiva.

Com um olhar pacífico cruzando seu rosto, entre. Você estará em um lindo templo a céu aberto, com hera entrelaçada pelos pilares de mármore e mosaicos enfeitando as paredes. A porta se trancará atrás de você. Não tente abri-la, pois não irá funcionar, e os monges em robes marrons que você vê vagando ao seu redor farão qualquer coisa para te fazer ficar – mesmo que isso signifique sua morte.

Ande um pouco pelo lugar. Não importa qual língua você fale, os monges falam também. Eles são amistosos e cada um deles adoraria conversar com você, mas decline educadamente. Diga a eles que você precisa falar com o Líder da Ordem.

Eventualmente você será guiado até um homem sentado à frente de um tabuleiro de xadrez – o abade do templo. A figura à frente dele está encapuzada e veste uma armadura. Não tente falar com a figura encapuzada, ou sua morte será muito pior do que qualquer visão do inferno que o ser humano pode conjurar. Ao invés disso, vire na direção do homem com familiar robe marrom. O jogo estará a um movimento do cheque-mate.

Curve-se e pergunte amigavelmente: "Por que eles se reúnem, Pai?"

Ele abrirá sua boca como se fosse falar. Mas a figura à frente dele soltará um uivo demoníaco de ódio e sacará a espada. Ela é lindamente entalhada, mas parecerá estar de alguma forma impregnada com um mal inimaginável. Com um grito, a figura te chutará pra longe e começará a matar todos os outros monges. Eles tentarão se defender, mas possuem apenas bastões, e a espada que o louco empunha é tão afiada que corta através dos pilares como uma faca corta manteiga.

Conforme você assiste a isso, o abade fará o último movimento do jogo. O homem de armadura dará meia volta e correrá na sua direção, com a espada em riste.

Se você tiver sido rude ou tiver feito algo errado, será desintegrado pela lâmina da espada, e a dor nunca cessará. Entretanto, se você tiver sido educado, o abade se colocará à sua frente e arremessará o rei preto do xadrez bem no olho direito do guerreiro.

Não demonstre nenhuma compaixão enquanto ele desaba rumo ao solo, ou o abade irá se virar e fará o mesmo com você, usando o rei branco. Ao invés disso, mantenha o foco no abade, que terá se virado para te encarar.

Ele te dirá porque eles se reúnem. É um longo conto, tão cheio de derramamento de sangue e horrores que poderão facilmente perturbar sua mente. Mas se você sobreviver ao esse conto, ele colocará a mão embaixo da mesa com o tabuleiro e te entregará uma bainha, ricamente adornada e entalhada em ouro. Apesar de nunca ter visto isso antes, você instintivamente saberá que ela se encaixa perfeitamente na espada que o guerreiro estava empunhando alguns momentos atrás. Não hesite – pegue-a, saia andando, apanhe a espada do louco, limpe-a e a embainhe. Prenda-a na cintura também – você precisará dela.

Faça menção para ir embora, mas antes que você vá, o bom Pai irá te segurar e apontar na direção da face do guerreiro, agora não mais coberta pelo capuz. Ele é muito bonito, mas não dê atenção a isso. A única coisa na qual você deve manter o foco é no fato de que o rei preto terá desaparecido. Olhe para o abade, que fará um aceno com a cabeça, concordando, e dirá apenas uma palavra: "Regicídio".

Um facho de luz irá te cegar, e quando sua visão retornar, você estará parado no meio fio, a dois quarteirões de distância da instituição. Vá para a calçada – você não quer sofrer um acidente.

A espada que você agora carrega uma vez pertenceu ao Rei Branco, e é o 45º Objeto dos 538. O Rei Preto está fugindo da cena do assassinato, a espada do Rei Branco anseia por vingança.




quarta-feira, 16 de outubro de 2013

7:05


7:05 da manhã
Você é tirado do seu sono no sábado de manhã por uma luz piscando do outro lado do quarto. Quase instintivamente, você atravessa o cômodo para desligar seu telefone vibrando. O celular mostra uma mensagem não lida, de um número que você não reconhece.

Recebida: 7:05
Eu não tenho muita certeza sobre o que está acontecendo. Estou assustado e sozinho. Eu não sei mais o que fazer. Decidi documentar os acontecimentos com essas mensagens de texto, considerando a possibilidade infeliz de eu não conseguir contar essa história pessoalmente.

Você é atingido por uma sensação de desconforto, mas sua mente não está lúcida o suficiente para compreender totalmente o que você acabou de ler. É cedo demais pra isso. Você decide voltar pra cama e lidar com isso depois.

9:10
O zumbido familiar do seu telefone ecoa pela sua cabeça conforme você acorda para encontrar outra mensagem não lida. O número é o mesmo da primeira mensagem, e o sentimento que as palavras evocam não é muito diferente também.

Recebida: 9:10
Eu decidi que o banheiro seria um bom lugar pra me esconder. Eu posso jurar que ouço passos vindo na minha direção. Eu estou os escutando há horas. Preciso encontrar uma saída – mas estou com medo de me mexer. Parece que as paredes estão se fechando ao meu redor. Tudo que eu sei é que eu preciso fugir daqui. Não é seguro.

Você começa a ficar preocupado. Você quer ajudar – e tenta responder – mas você não sabe direito o que dizer. Você tenta ignorar as mensagens, tratando-as como algum tipo de trote, mas fazer isso não faz a sensação de ansiedade ir embora. Por enquanto, você decide seguir normalmente com suas atividades diárias.

11:14
Já faz duas horas. A ansiedade quase desapareceu. Você percebe que está sem fome. Esse sentimento inexplicável está afetando seu apetite. Então, nesse instante, você ouve o mesmo som desagradável.

Recebida: 11:15
Eu resolvi correr. Só correr. Não tenho nenhum plano, mas preciso achar uma saída em algum lugar. As portas estão todas trancadas. Agora não há mais nenhum lugar pra onde eu possa ir. Me sinto encurralado, e os passos ficam cada vez mais altos.

Não é necessário dizer, essas mensagens estão começando a te afetar. Você não consegue lidar com isso. Você decide simplesmente deixar pra lá. Ignorar as sensações. Ignorar as mensagens. Não há razão para você se envolver nisso.

Você escuta o zumbido do seu telefone várias vezes durante as horas seguintes – mas você faz o melhor que pode para ignorar o ruído.

4:01da tarde
Outro zumbido. A ansiedade está se tornando insuportável. Já chega. Você verifica seu telefone e encontra quatro mensagens não lidas, todas do mesmo número de antes.

Recebida: 12:13
Não sei por quanto tempo estive correndo. Os passos não vão embora. Eu não consigo escapar deles, não importa o quão rápido eu corra. Eles simplesmente ficam mais altos, e parecem estar em toda parte.

Recebida: 1:06
Eu não consigo mais correr. Os passos estão ensurdecedores – e há batidas nas paredes ao meu redor. Eu devo estar ficando louco. Há vozes na minha cabeça. Os corredores estão falando comigo, mas as palavras são ininteligíveis.

Recebida: 2:24
Os passos, as vozes, todos os sons cessaram. Tudo que restou é um terrível zunido. Meus ouvidos começaram a sangrar. Minha audição está quase no fim e minha visão já começou a falhar também. Nada parece ser da cor que deveria. O que antes era um leque de cores agora se transformou em vários tons de preto e vermelho. O calor aqui é insuportável. Estou encharcado de suor.

Recebida: 4:01
Eu vejo sombras pelo canto dos meus olhos. As paredes se movem constantemente. Eu continuo tentando convencer a mim mesmo de que isso é só um sonho doente, mas o calor, as sombras, o sangue... são tão reais. Eu me sinto impotente.

A essa altura você está convencido de que isso não é uma brincadeira. Você precisa encontrá-lo – salvá-lo, mas como? O que você poderia fazer para ajudar? Tudo que você pode fazer agora é esperar pela próxima mensagem.

Recebida: 5:12
Eu comecei a bater minha cabeça contra a parede, tentando fazer as vozes pararem. Sinto que estou cercado, vigiado constantemente por algo ou alguém. Faça parar. Só faça tudo isso parar.

Recebida: 5:56
Tem tanto sangue. A dor parece não me incomodar mais. É minha única distração nessa loucura. Estou começando a me sentir zonzo. Não sei por quanto tempo vou agüentar. Se você está lendo essas mensagens, fique longe da escola Bellview. Há algo terrivelmente errado com esse lugar.

Naquele momento você percebe que, quem quer que seja essa pessoa, não está longe de você. Você freqüenta aquela escola. Essa pode ser sua chance. Você poderia salvá-lo.

6:25
Você toma sua decisão. Você vai até aquela escola. Não faz idéia do que vai fazer quando chegar, mas sabe que deve fazer alguma coisa. Você já esperou tempo demais.

Recebida: 6:57
Eu não agüento mais. Eu não posso suportar nem mais um segundo desse pesadelo. Tem tanto sangue. Eu mal consigo respirar. Tenho certeza que tudo isso vai terminar logo. Tem que terminar. Sangue. Tanto sangue. Faça parar. Só faça essa loucura parar.

Você dispara rumo à escola e entra correndo, dando uma rápida olhada ao redor. Os corredores parecem vazios. Onde ele está? Você esperava ver um banho de sangue. Pela primeira vez, você responde à mensagem:

Enviada: 7:02
Estou aqui. Estou na escola. Onde você está?!?

Quase instantaneamente você ouve um zumbido.

Recebida: 7:02
Estou aqui. Estou na escola. Onde você está?!?

De início, você fica confuso. Você lê a mensagem de novo e de novo. As peças começam a se encaixar em sua mente. As mensagens que você recebeu o dia inteiro... foram enviadas do seu telefone.

Logo após isso, a porta bate atrás de você, e você começa a ouvir passos vindo na sua direção. Assustado e sozinho, você começa a correr – passando o olhar pelo horário exibido na tela do relógio na parede:

7:05



Original: http://www.quotev.com/story/1740990/Creepypasta-creepy-short-stories/12/